Postura
Assim como grande parte dos alunos demonstrou ainda pouco conhecimento sobre as dimensões e consequências dos riscos relacionados ao uso da internet, a pesquisa da Ritla no Distrito Federal constatou também que poucos educadores já refletiram sobre o assunto para escolher qual a melhor forma de orientar os alunos para que façam um uso mais seguro da internet.
Depois de ter contato com os casos virtuais de violência e com atos eticamente questionáveis, a professora Marta decidiu tomar iniciativas no mundo real: conversou, em primeiro lugar, com os alunos envolvidos. Depois, com a direção, demais colegas e só então com os adultos responsáveis pelos adolescedntes. "Alguns casos foram inclusive encaminhados para o Conselho Tutelar e/ou para a Vara da Infância e da Juventude", conta.
Mas a decisão da professora, de agir em função dos comportamentos sobre os quais tomou conhecimento via internet, não é aceita consensualmente entre seus pares. A discussão parece ainda incipiente. O que o professor deve fazer diante de uma cena de crime virtual: entrar em contato somente com o próprio aluno envolvido para discutir a atitude? Denunciar o caso para a direção da escola ou mesmo avisar a polícia? Ou deixar essas informações restritas ao ambiente virtual?
"Demos a ferramenta, mas não ensinamos ninguém a usar", diz a advogada Patrícia Peck, especializada em direito digital, sobre as redes sociais. Ela lembra que o fato de a Justiça já levar para o mundo real casos ilícitos do universo virtual obriga também a escola e os profissionais de educação a se informar sobre o tema. Diante de casos graves de crime ou ameaça, o professor que acessou página com essa informação e não tomou nenhuma providencia a respeito pode ser considerado copartícipe, e responder por isso judicialmente. "Quem cala consente. Digitalmente também. O compartilhamento de informações deu origem a uma solidariedade digital, que pode ser muito perigosa. Assim, a partir do momento que o professor tomou contato com um caso ilícito, ele não tem mais posição isenta", alerta a profissional. Nesse caso, a posição do professor equivale à de qualquer cidadão que tome conhecimento de um ato ilícito.
Em casos de desvios de conduta, seja ela de qualquer gravidade, Patrícia Peck acredita que a melhor atitude que um docente pode tomar é orientar para uma postura mais adequada ao aluno usando a mesma ferramenta virtual. "Ele pode enviar mensagem para todos os membros da comunidade, ou orientar o autor da ofensa em particular. Dessa forma, não poderá ser acusado de conivência." A atitude do professor, lembra Peck, também deve ser cuidadosa desde o início da interação para que não dê brechas para interpretações equivocadas sobre assédio sexual ou pedofilia.
Patrícia acredita que, mais do que se garantir do ponto de vista legal, cabe ao professor orientar os educandos, mesmo fora do espaço escolar: "Faz parte do papel dele orientar seus alunos mesmo que isso ultrapasse o perímetro da escola. O professor precisa deixar claro ao estudante que mesmo uma brincadeira de mau gosto postada na web gera responsabilidade de seu autor", diz.
Foi o que aconteceu certa vez no Colégio Bandeirantes, conta a professora Cristiana Assumpção, coordenadora de Tecnologia Educacional. Uma aluna criou a comunidade Gossip Girl, no Orkut. Assim como a narradora do seriado homônimo da TV fechada, a estudante também anonimamente fazia fofocas sobre os namoricos do colégio. Cristiana entrou na comunidade por meio da sua página pessoal e deixou recado indicando que aquela era uma atitude reprovável. Ao fim, pediu que a comunidade fosse excluída. Embora a identidade da aluna nunca tenha sido revelada, o pedido foi atendido. "Mesmo sendo uma ação fora da escola, o acesso às redes sociais faz parte da educação do aluno. A escola precisa se envolver", analisa Cristiana, que coordena curso específico de ética e cidadania digital no colégio.
SABEDORIA DOS LIVROS
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Há pessoas e pessoas, como há livros e livros.
Há livros que não são bons, como pessoas. Fazem o mal a quem os lê.
O jeito é sair de perto deles.
*Os sábi...
Há 17 horas
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