quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Os estudantes e as redes sociais na internet III

Apoio
Um fator que tende a pesar na postura é a posição da instituição em que trabalha. Foi justamente pelo apoio que recebeu da direção de sua escola que o professor Verner Everton Carmona começou um trabalho de mobilização junto aos alunos sobre os perigos da internet, a importância de preservar sua reputação virtual, deixando de lado atitudes de flagrante desrespeito aos colegas de classe ou aos funcionários, direção ou professores. Tudo começou neste ano, quando um aluno do ensino fundamental da rede pública da Santa Gertrudes (SP), cidade onde leciona em três escolas municipais, "hackeou" a comunidade "Amamos o Prof. Verner", existente há quase cinco anos no Orkut e com cerca de 315 participantes, e mudou o nome dela para "Odeamos o Prof. Verner". Assim mesmo, com erro e tudo.

O professor encaminhou ofício para a direção para que chamasse os pais do suposto aluno envolvido para esclarecer o que houve. Ficou claro que o aluno envolvido teve a senha do perfil na comunidade clonado. Com o auxílio do professor de informática da escola, o aluno fez uma denúncia do próprio perfil na rede social. Felizmente, a comunidade foi excluída.
Casos como este revelam o cuidado que professor e escola devem tomar em situações de fraudes envolvendo identidades dos perfis dos alunos, para que injustiças não sejam cometidas. Não se deve considerar a informação postada no ambiente da web como verdade e sair punindo o aluno que informou e os que ele denunciou, por exemplo, sem uma investigação ampla sobre o fato. Além disso, o professor deve avaliar se se sente seguro para fazer uma intervenção direta, via rede, de orientação para o aluno:

"Ele precisa saber se é pertinente, afinal, outros alunos verão também a mensagem, dependendo de onde for postada", alerta Priscila Gonsales, coordenadora-executiva do Programa EducaRede no Brasil, que tem rede social educativa com mais de sete mil membros, administrada pela Fundação Telefônica.

Para a educadora, a escola pode ser mais rígida ou prezar mais o diálogo direto - tanto faz. O que importa é que a instituição se envolva com essa nova ordem educacional virtual, senão ela vai ficar sem saber como se posicionar diante de um caso de desrespeito via web. "É muito cômodo a escola achar que não tem nada a ver com isso. Ela tem de estar no mundo, não é elemento isolado", diz.

Já a professora Vani Kenski, autora do livro Educação e tecnologias: o novo ritmo da informação (Ed. Papirus), é mais descrente com a postura das escolas frente às novidades tecnológicas: "Não há uma apropriação dessa realidade na organização fechada e duramente oficializada e fiscalizada segundo a politica e a legislação educacional anacrônicas que temos. Dessa forma, mesmo que o professor esteja 'ligado' nessa nova realidade social e cultural, não tem espaço nem tempo na escola para lidar de forma significativa com essas questões. Algumas iniciativas pontuais e exemplares são feitas por alguns professores, mas são exceção e pouco repercutem na comunidade educacional da escola ou no contexto educacional mais amplo", diz.

A apatia da categoria é confirmada por Luiz Gonzaga de Oliveira Pinto, presidente do Sindicato de Especialistas de Educação do Magistério Oficial do Estado de São Paulo: até hoje nenhum pedido de orientação ou questionamento sobre questões éticas ligadas à internet chegou ao sindicato.

Um monitoramento constante das ações extraescola dos alunos deveria ser feito por uma equipe especializada dentro da unidade escolar para traçar e/ou conhecer determinados perfis, na opinião do professor João Rafael Mo­raes de Oliveira, que leciona desde 2007 na rede estadual paulista. "No entanto, os profissionais da educação não estão preparados, e acredito que nem seja do interesse deles trabalhar questões extra-classe. Nesse sentido, trabalha-se num terreno desconhecido, do 'eu acho'", diz.

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