quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Por que apenas metade da Bíblia é importante para nós?



Imagem Folha.com do fotografo Eduardo Anizelli .

Maya Felix

Resolvi escrever o artigo da primeira semana de fevereiro na segunda semana do mês. Explico: estava esperando o desfecho da eleição para a Presidência do Senado Federal. Essa eleição não é, de fato, algo de diferente na história recente do Senado. Mais um político que acumula denúncias de corrupção chega à liderança da casa eleito pelos seus pares. Essa situação indigna é comum na política brasileira. O que não é comum , infelizmente, é a reação dos evangélicos a esse descalabro.

Muitos de nós – evangélicos – indignam-se justamente com abusos e ameaças relativas à moral sexual. Assim, comentamos nas redes sociais, reclamamos, denunciamos e nos mobilizamos quando surgem projetos de lei que legalizam e prostituição ou instituem a censura à divulgação da Bíblia.

Mas a ética e a moral relativas ao que é público, entretanto, não são objeto de indignação entre a maioria dos cristãos. Não nos lembramos de tantos e tantos trechos da Bíblia que condenam o roubo, a apropriação indébita, o enriquecimento ilícito, o suborno, a mentira. Muitos evangélicos lamentam, mas tratam esses problemas como menores e menos relevantes que questões tocantes à moral sexual. Basta dar uma olhada em blogs de evangélicos que se consideram conservadores para vermos que, de fato, quase todos eles não dão a mínima para o desvio de verbas, por exemplo. Se, por conta disso, um hospital público deixa de receber medicamentos, ou uma escola pública deixa de ter merenda, esses fatos também não lhes parecem alarmantes.

Mas penso que nós, que nos chamamos pelo Seu nome, deveríamos ser os primeiros a nos indignar com práticas que para Deus são imundas. O cristão que de fato conhece a Bíblia sabe que de Gênesis a Apocalipse Deus fala contra os que oprimem o povo. O profeta Oseias, em seu livro, condena sete práticas pecaminosas de Israel contra os pobres. A elite israelita negligenciava a misericórdia e a justiça e oprimia os fracos. Entre as práticas condenadas por Oseias está o mau uso dos impostos. O primeiro verso do capítulo quatro é conhecido, pois chama de “vacas de Basã” mulheres ricas que oprimiam os pobres e quebrantavam os necessitados. Como a Igreja no Brasil de hoje despreza o apelo de justiça de Deus contra práticas corruptas e imorais na política? É a corrupção que permite que boates como a Kiss, em Santa Maria, Rio Grande do Sul, funcionem. Com esse exemplo espero que possamos ver, de modo mais concreto, qual é o resultado do mau uso do que é público: sofrimento, morte, dor. Como não nos indignamos contra isso? Por que não nos levantamos, antes de qualquer grupo social, contra práticas que aviltam a dignidade do ser humano que Deus tanto ama?

A eleição de um político como Renan Calheiros para a Presidência do Senado e, por consequência, do Congresso Nacional, não foi alvo de protestos de evangélicos em redes sociais. Não li em nenhum blog textos reclamando do fato como “imoralidade”. Não quero dizer que protestos contra a legalização da prostituição são desimportantes. Mas questiono o fato de que a eleição de Renan Calheiros parece-me totalmente insignificante para um povo que deve ser ético e honesto, amante da justiça, da verdade e da retidão.

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