quinta-feira, 30 de junho de 2011

Discordância teológica não é intolerância religiosa

Nos últimos dias temos assistido e participado de um acalorado debate religioso (teológico, melhor dizendo) no Blog Upanema News, do colega Silva Júnior. Gostaria de escrever algumas linhas a respeito de alguns pontos discutidos.

Tudo começou com a discussão em torno dos festejos juninos. Questionava-se se aqueles festejos são ou não idolátricos. Depois de muito debate, o clima começou a esquentar e os ânimos a se acirrarem. Aquele ambiente virtual tornou a convivência, pelo menos no campo virtual, muito desgastada entre católicos e evangélicos.

 A palavra mais utilizada naquele espaço virtual é TOLERÂNCIA e seu antônimo INTOLERÂNCIA. Eu vendo esse emprego maciço do citado termo fiquei desconfiado que existia algo errado naquilo. Fui ao dicionário Michaelis em busca do real significa da palavra. Veja qual a real definição para o termo em evidência: Tolerância religiosa: atitude governamental em que se concede plena liberdade de culto. Tolerância teológica: condescendência em consentir todas as opiniões que não são abertamente contrárias à doutrina da Igreja.

Dos dois significados reproduzidos acima, nenhum se aplica aos argumentos dos evangélicos e católicos debatedores naquele blog. O 1º fala de atitude governamental em relação à liberdade de culto. Ninguém fala disso lá. O Brasil é um bom exemplo em liberdade religiosa. Por qui existe até igreja de Satanás. O 2º significado, o teológico, fala de "consentir as opiniões que NÃOo abertamente contrárias à doutirna da Igreja". Nesse caso nem os católicos, nem os evangélicos opinantes foram intolerantes. 

Se os evangélicos falaram de algo que acham inadequados à fé cristã, o fizeram segundo o seu credo. Não foram intolerantes porque o que eles condenam é algo que é abertamente contrário à doutrina que segue: a idolatria, no caso em questão. Seria intolerante criticar algo que não é abertamente contrário a fé que segue. ficou claro?


Já os católicos, por sua vez, quando discordam dos evangélicos, não estão sendo intolerantes pois estão defendendo algo admitido como santo e perfeitamente acatado como dotrina verdadeira em sua própria igreja. E agora, fui claro também?

 Pois bem, diante desses argumentos embasados no dicionário citado, espero que não continuemos mais fazendo uso incorreto da palavra em estudo.

Quanto ao debate a respeito de doutrinas bíblicas, gostaria de dizer que ele já vem de séculos. Ele não só existe entre evangélicos e católicos, mas também, entre uns grupos evangélicos e outros grupos igualmente evangélicos. Mas isso também é comum entre os diferentes segmentos católicos. Lembram das querelas entre o Vaticano e os adeptos da Teologia da Libertação? O Frei Leonardo Boff (Leia sua biografia, clicando em seu nome) continua vivo e é testemunha do que sofreu da parte de sua própria igreja. Será que a Igreja Católica foi intolerante com ele? E o Cisma entre a Igreja Católica Romana e a Igreja Ortodoxa Oriental é outro exemplo bem forte. Nesse caso existe uma intolerância interna e mútua?

 É normal que os segmentos cristãos defendam sua fé. Para isso, muitas vezes, se faz necessário contrariar crenças de outrem. Isso não é intolerância. Isso se chama APOLOGÉLICA, ou seja, DEFESA DA FÉ.

Já escutei muitos programas da Igreja Católica, na FM local, fazendo uma defesa da própria fé. Nesses programas se passa mais tempo falando daquilo que os evangélicos falam do que da própria doutrina católica. Eu acho isso normal. Trata-se de uma defesa da fé deles. Essa é a estratégia correta? Não sei. Cabe ao próprio segmento fazer a avaliação disso. Não digo que isso seja intolerância religiosa. Se a Igreja Católica não defender a própria doutrina, quem fará isso por ela?

O que não se pode é tentar calar todos aqueles que não concordam com as nossas doutrinas e pensamento. Isso seria amordaçar o outro, pelo simples fato de não comungar com os mesmos princípios. Isso é próprio das ditaduras. Não faz parte do pensamento filosófico cristão a eliminação dos contrários. Estamos convivendo com os contrários de forma pacífica e respeitosa. Divergimos de alguns pontos doutrinários, mas convergimos em outros, como é o caso do aborto, matrimônio e tantos outros. Por que perder o equilíbrio e partir para ataques pessoais? Podemos discordar das idéias, mas não podemos deixar de amar e respeitar as pessoas.

2 comentários:

Jander Freire disse...

Francisco, concordo com vc!

Mas, uma observação é necessária...

Cristo, é verdade, mandou odiar o pecado e não o pecador. Mas isso se refere ao sentimento, à motivação íntima, não à brandura ou dureza dos atos e das palavras expressas. Ele nunca disse que é possível reprimir o pecado sem magoar o pecador.

Quando expulsou os comerciantes do templo, Ele chicoteou "pecados" ou o corpo dos pecadores? Quando chamava os incrédulos de "raça de víboras", Ele se dirigia a noções abstratas, no ar, ou a ouvidos humanos que sentiam a dor da humilhação?

O pecado, em todos os casos possíveis e imagináveis, só pode ser reprimido, punido ou combatido na pessoa do pecador, não em si mesmo e abstratamente.

Portanto, é perfeitamente natural essa reação do católico ao ver sua doutrina "impugnada", pois é como se a sua própria pessoa estivesse sendo "atacada".

Profº Francisco Gondim disse...

Eu acho que o problema dos católicos é que eles estavam acostumados com a vida de superioridade. Quando eles dominavam, faziam de tudo não existia ninguém para confrontá-los. Hoje isso mudou e eles estão perdendo esta posição e passando a se fazer de vítimas. É reler os comentários deles, para se perceber isso. Será que se fazem de esquecidos que apedrejaram cultos, batiam a "porta na cara" dos que saíam pregando o Evangelho, chamavam os crentes pentecostais de bodes, e tantas outras práticas semelhantes? Que discurso é esse contra uma suposta intolerância?