sábado, 15 de agosto de 2009

O papel do diretor na redução da desordem e violência escolar

Do livro: A reforma educacional de Nova York: Possibilidades para o Brasil

Nativo do Bronx, John Hughes é o tipo de liderança talhada para enfrentar escolas
violentas. “Quando estava entrevistando professores no ano passado, eu dizia:
‘Olhe, você está entrando em um verdadeiro inferno. Mas eu prometo que no
próximo ano vai ser melhor’. E está sendo”, conta John, diretor de escola há 11
anos, mas que somente há dois assumiu o desafio de transformar uma das mais
violentas escolas em Hunts Point, a Hunts Point School, no Bronx7.

Durante sua primeira semana na escola, foi avisado de que não poderia incomodar
um de seus alunos, Christopher Davis, de 17 anos, que ainda estava na sétima série.
Christopher não entrava na sala de aula, somente circulava pelos corredores, intimidando
professores e alunos. John decidiu segui-lo por horas, até que Christopher o ameaçou.
John se colocou na frente dele, imóvel. Então Christopher o empurrou. “Era o que
eu precisava. Chamei os policiais e ele foi suspenso. Ele tinha tantas suspensões anteriores
que foi tirado da nossa escola por um ano”, lembra John. E o mais importante,
ressalta, é que bastou a expulsão de um aluno como Christopher para sinalizar a outros
que as regras iam mudar. “Assim, todo menino já sabia, na primeira semana de
escola, que eu estava disposto a me arriscar para garantir que o trabalho fosse feito. E
cada professor passou a saber disso também”, lembra.

Diretores de escolas como as de John se utilizam do Código Disciplinar da cidade
como referência e apoio institucional para as decisões difíceis que precisam tomar com
seus alunos. Dentro de cada tipo de infração, há opções do que fazer. “Se dois meninos
acabam brigando, vêm para minha sala e começam a chorar, e sentem que fizeram
algo terrivelmente estúpido. Eles precisam ser tratados de forma diferente daquele aluno
que está envolvido em gangues e ataca outro aluno para resolver rixas”, aponta
John, cuja escola já experimentou um decréscimo significativo no número de suspensões.
Em janeiro de 2008, 75 alunos, num total de 392, haviam sido suspensos. Um ano
depois, somente 25. Toda manhã John recebe uma lista mostrando os alunos presentes
e ausentes, para que possa controlar melhor o absenteísmo de alunos. “O exdiretor
mentia sobre os dados de frequência, dizendo que nossa média era 96%
por dia. Mas quando eu cheguei, ninguém estava vindo para a aula”, conta John,
agora satisfeito com o fato de terem chegado a 90% em 2009.

John se lembra de como, no ano passado, qualquer mural colocado nas paredes
era imediatamente rasgado ou queimado. Neste ano, os corredores da escola
estão tomados por murais com os trabalhos dos alunos. No primeiro dia de aula,
um aluno atacou um professor e o jogou ao chão. Ao ser suspenso, esse jovem reclamou: “Você quer que este lugar seja perfeito?!” John respondeu que sim, e quetalvez, quando o garoto voltasse, depois de alguns meses suspenso, poderia “fazer
parte desse esforço, se tomasse jeito”. Para esse diretor, o programa de segurança
escolar, além do fato de estar há oito anos na comunidade, o ajuda a manter as
gangues fora da escola. Crítico da reforma, por achar que esta organiza a secretaria
“como uma empresa”, John lhe dá crédito por intervir nas escolas mais problemáticas
e fechar aquelas que não apresentaram mudanças. Huntspoint Middle School
foi uma delas. “Se ele não tivesse fechado a antiga escola, e reaberto outra no mesmo
lugar, eu não teria conseguido fazer o que fiz por aqui.”

Se, no primeiro ano, metade dos alunos da escola se envolvia em comportamento
violento, neste ano apenas 5% ainda lhe dão problemas sérios. O diretor
atribui essa mudança, em parte, também à qualidade de instrução. No seu primeiro
ano, John avaliou sete professores como não satisfatórios, algo que nunca
havia sido feito na escola. “Eu me arrisco a dizer que 85% dos professores que estavam
aqui no ano passado não trabalhavam. Eles deixavam os alunos correrem
nos corredores, se arrastavam para as salas de aula, fingindo ensinar, isso quando
simplesmente não faltavam ao trabalho”, lembra. John conseguiu dispensar ou
“convencer a saída” de quase 75% de todos os seus professores. O “convencimento”
se dá simplesmente porque passou a cobrar frequentemente os professores,
sinalizando que “não os deixaria em paz”. Essa estratégia informal foi muito citada
por diretores e gestores entrevistados.

Nova York também se apoia em selecionar diretores que têm uma resiliência
e envolvimento pessoal diferenciados, para as escolas mais difíceis:

Eu nasci perto daqui, no hospital Bronx Lebanon, perto do Grand Concourse, no
Bronx, numa família pobre. Meu pai morreu quando eu tinha 10 anos de idade. Tinha
cinco irmãos e irmãs mais novos do que eu. A razão pela qual estou sentado
hoje na sua frente é porque havia pessoas na minha escola pública que me pegavam
pelo pescoço quando eu estava procurando encrenca e diziam: ‘Deixe de ser
um idiota’. Elas se importavam comigo. Por isso, quando olho cada um desses
meninos, estou olhando para mim. Quando perguntei, no final do meu primeiro
ano, a um grupo de alunos se havia algo diferente na escola, um dos meninos
falou que sim. “Você gosta da gente”, ele me disse.

Entrevista com John Hughes, Huntspoint Middle School, Bronx, Nova York, janeiro 2009

Fonte: UOL

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