sexta-feira, 8 de maio de 2009

Primeira greve dos professores do RN completa 30 anos

O próximo domingo, 10 de maio, é dia de comemoração e lembrança para os filiados do Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Sinte) e para os demais educadores do estado. A data marca os 30 anos da primeira greve do Magistério Público do Rio Grande do Norte, deflagrada em 1979. A época ainda era a da Ditadura Militar, quando greve era totalmente proibida, e do fim do Governo Geisel e início do Figueiredo. Naquele momento, também ocorreram vários movimentos grevistas em todo o país, em particular as greves do ABC paulista. Era tempo de retomada do movimento sindical no Brasil.

Os educadores do comando do movimento, por sua vez, eram jovens de 20 e poucos anos, como relata o professor Eduardo Gosson. “Há dois meses havíamos entrado no Magistério Público”, lembra. Um dos participantes da greve, inclusive, foi o atual presidente da Fundação José Augusto, Crispiniano Neto, que atuava no magistério, em Mossoró.

Ainda segundo Gosson, dos 70 colégios de Natal, 69 pararam as atividades e mais outros 12 em Mossoró e Caicó. “O magistério era uma categoria completamente esquecida, tanto que a própria direção da Associação de Professores foi contra. Nós conseguimos dar visibilidade a todo o funcionalismo público e ao direito de se fazer greve”, afirma.

“Uma das nossas estratégias era a de não divulgar os nomes dos envolvidos, mas apenas que o Comando de Greve estava atuando. Isso para não sofrer represálias, porque já era o ocaso da ditadura, mas o Serviço de Informação do Governo ainda mapeou todos os envolvidos. O governador foi orientado pelo Serviço de Segurança”, lembra o professor.

Para ele, a direção da Associação de Professores não aderiu à greve porque era muito tradicional e tinha o hábito de “sofrer calada”. O que se fazia na época era preparar um documento destinado ao Governo do Estado e esperar que a categoria fosse ouvida. “Rolava um boato na cidade de que quem aderisse a greve seria demitido”, lembra José Antenor de Azevedo, 62, que ensinava no Colégio Atheneu.

O Comando de Greve era formado pelos(as) professores(as) Iara Maria, Egídio, Eduardo Gosson, Marcos Almeida, Vicente Barbosa, Jônatas Azevedo, Manoel Sérgio, Sara Lordão, Geraldo Pereira Pinto e José Antenor de Azevedo. A categoria já fazia reivindicações não muito diferentes das atuais, como a imediata promoção e a instituição de um piso salarial de três salários mínimos. Vale salientar que 30 anos depois a luta pelo piso continua, só que desta vez pela sua efetiva implantação.

Reivindicações
O restante da pauta de reivindicações era: o enquadramento de todos os professores a partir da Lei n° 16, de 14/10/1977; carga horária de 40 horas semanais; correção de carga horária de 4,5 para 5 semanas; taxa de insalubridade (20%); incorporação automática de quinquênios aos salários; equivalência salarial entre estatutários e celetistas; reajuste de 200% a partir de 1° de maio e criação de uma comissão paritária para reformar o estatuto do magistério.

Conseguir o apoio da população, entretanto, também não foi fácil, sobretudo no interior. O professor Joaquim Gaspar Filho, 62, participou da greve como presidente da Associação de Educadores do Magistério de Caicó (AEMEC) e relata que as pessoas tinham muito medo de apoiar o movimento.

“A amizade política em Caicó e nas demais cidades da região era e é muito grande. Todos os comandantes da greve faziam questão de deixar claro que o movimento era apartidário, que a luta era pela melhoria das condições de vida e trabalho da categoria, mas era muito difícil”, relata.

Apesar das dificuldades, o movimento se considerou vitorioso, tendo conseguido a reforma do estatuto e um aumento de salário de 90%. Um de seus membros, o professor Felipe Caetano, 62, representante da Associação dos Professores de Mossoró (APM), ainda se emociona ao falar do assunto e diz que a maior conquista da greve foi ter conseguido fazer os professores acreditarem que só organizados poderiam conquistar seus direitos. “Os estudantes da época apoiavam o movimento de maneira consciente. Antes do direito à greve, em 88, éramos mais fortes, lutávamos mais”, garante Caetano.

O acordo com o Governo, por fim, foi feito após uma semana de greve, segundo Gosson, e mediado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), através de Varela Barca e Hélio Galvão e pela Igreja Católica, na figura de Dom Nivaldo Monte e Dom Costa. “Se não conseguimos tudo que queríamos, conseguimos inaugurar um novo paradigma: o direto de greve para o funcionalismo público e mostrar para a sociedade a importância do professor”, declara Eduardo Gosson.

Fonte: Assessoria do mandato do deputado Fernando Mineiro

Um comentário:

IVONE BENGOCHEA - PROFBENGO disse...

Parabéns por reavivar a memória dos professores pioneiros na luta pelos seus direitos. Destaca-se a figura de José Antenor de Azevedo, professor, advogado, um exemplo de coerência por seus ideais. Uma justa homemagem.